Fonte: DW
O filho do antigo Presidente da República,Malam Bacai Sanha, conhecido como “Bacaizinho” e actualmente detido nos EUA sob suspeita de tráfico de drogas, pode ter confessado a intenção de instalar um regime mais favorável ao narcotráfico no seu país, segundo revelação de jornalistas alemães.
Malam Bacai Sanhá Júnior, popularmente conhecido como “Bacaizinho”, é mais uma vez o centro de uma situação internacional de narcotráfico. Ele é filho do falecido ex-Presidente da Guiné-Bissau, que morreu em 2012.
“Bacaizinho” foi detido em 2022 por agentes anti-drogas dos EUA e aguarda julgamento numa prisão do Texas.
O tribunal ouviu testemunhos que apontam que Bacaizinho tem estado envolvido no tráfico internacional de cocaína, heroína, armas e outros produtos ilícitos durante vários anos. Acrescenta-se a isto, a alegação de que ele terá sido um dos principais intervenientes na tentativa de golpe de Estado de 1 de fevereiro de 2022, com o intuito de depor Umaro Sissoco Embaló e transformar o país num Estado mais recetivo ao narcotráfico.
A investigação foi conduzida por um colectivo de jornalistas alemães do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung e da televisão pública MDR, que obtiveram várias provas a que a DW também teve acesso. Estes elementos indicam que Malam Bacai Júnior, que anteriormente foi conselheiro de vários governantes na Guiné-Bissau, incluindo o seu próprio pai, terá viajado várias vezes para Frankfurt, na Alemanha, com um passaporte diplomático da Guiné-Bissau, onde terá tido encontros com membros da Ndrangheta, a máfia Calabresa que controla o tráfico de cocaína.
Agentes antidrogas americanos da DEA têm seguido Bacai Júnior há anos. Diversas conversas entre Bacai Júnior e seus clientes, assim como com agentes disfarçados da DEA, foram interceptadas e transcritas para apoiar as acusações contra o filho do ex-Presidente guineense.
Documentos oficiais recolhidos pelos jornalistas sugerem que Bacaizinho pode ter estado envolvido na tentativa de golpe de Estado de 1 de fevereiro de 2022, de acordo com David Klaubert, editor do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, que examinou o caso em detalhe.
Segundo Klaubert, “Malam Bacai Júnior afirmou várias vezes que estava envolvido na tentativa de golpe de Estado e que continuava a aspirar a tornar-se um dia o Presidente da Guiné-Bissau para instalar um governo mais favorável ao narcotráfico”.
O jornalista refere que Malam Bacai Júnior chegou mesmo a relatar a agentes secretos que ele próprio tinha sido um dos líderes da tentativa de golpe de Estado de Fevereiro de 2022″, acrescenta Klaubert.
O ataque ao palácio governamental, onde se realizava uma reunião do Conselho de Ministros presidida pelo chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló, ocorreu a 1 de Fevereiro de 2022.
Na altura, o Presidente Sissoco Embaló sugeriu aos meios de comunicação que os atacantes teriam sido pessoas ligadas ao tráfico de drogas. “Este golpe também tem a conivência de pessoas que estão a ser investigadas no âmbito da luta contra o narcotráfico. A maioria das pessoas envolvidas está na lista de investigação por narcotráfico. Eu já tinha uma noção de que há um preço a pagar. A luta continua!”, afirmou Sissoco um dia após o ataque.
O chefe de Estado guineense não apresentou quaisquer provas, mas as informações contidas no processo que está a decorrer nos Estados Unidos sugerem que as declarações de Sissoco Embaló podem estar relacionadas com o caso de Bacaizinho.
Segundo os documentos oficiais, Malam Bacai Júnior também fez referência a um suposto “tio” nas conversas com os traficantes de cocaína. Este “tio” seria alegadamente um militar, com contactos privilegiados com clientes na Rússia e na Coreia do Norte, e que teria a capacidade de arranjar uma variedade de itens em troca de droga, incluindo armas de fogo ligeiras, minas terrestres e até submarinos.
A DW descobriu que este “tio” de Malam Bacai Júnior vive há vários anos em França, onde recebeu formação militar na Rússia e também na Coreia do Norte, onde desempenhou funções de consultoria e formação militar.
Em resumo, o jornalista alemão David Klaubert afirma que estamos aparentemente perante um caso de um cidadão de um pequeno país envolvido em enormes negócios de narcotráfico internacional: Malam Bacai Júnior seria supostamente tudo menos “peixe pequeno”, a avaliar pelos dados nos documentos oficiais.
No entanto, Klaubert lembra que Malam Bacai Sanhá Júnior ainda não foi condenado. “Ao ler os documentos da polícia italiana e dos agentes da DEA americana, concluímos facilmente que Malam Bacai Sanhá Júnior era uma pessoa muito activa no tráfico de estupefacientes, tanto de heroína como de cocaína. Há referências a negociações que terá mediado com guerrilheiros da Colômbia, Hezbollah no Líbano, a máfia italiana”, explica Klaubert.
O processo provavelmente só será concluído no final deste ano, e é importante respeitar o direito de Bacaizinho à presunção de inocência, enfatiza o jornalista.
Até agora, a defesa de Bacaizinho não se pronunciou sobre as acusações – as tentativas da DW para obter uma reacção sobre o caso foram infrutíferas.
RTB/DW
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