Reuters

WASHINGTON, 5 de Junho (Reuters) – O Presidente Donald Trump ameaçou esta quinta-feira cortar os contratos governamentais com as empresas do bilionário Elon Musk, enquanto Musk sugeriu que Trump deveria ser alvo de um processo de impeachment, transformando uma antiga aliança numa guerra aberta nas redes sociais.

As hostilidades começaram quando Trump criticou o CEO da Tesla no Gabinete Oval. Horas depois, a relação outrora próxima desfez-se publicamente, com o homem mais poderoso do mundo e o mais rico a trocarem ataques pessoais no Truth Social (de Trump) e no X (de Musk).

“A forma mais fácil de poupar dinheiro no nosso Orçamento, biliões e biliões de dólares, é terminar com os subsídios e contratos governamentais do Elon”, escreveu Trump no Truth Social.

Em Wall Street, os investidores reagiram com nervosismo e as ações da Tesla encerraram o dia com uma queda de 14,3%, perdendo cerca de 150 mil milhões de dólares em valor de mercado – a maior perda num só dia da história da empresa.

Minutos após o fecho da bolsa, Musk respondeu com um simples “Sim” a uma publicação no X que sugeria que Trump devia ser destituído. Apesar disso, com os republicanos a controlarem ambas as câmaras do Congresso, um impeachment é altamente improvável.

O conflito começou a fermentar dias antes, quando Musk criticou o novo pacote legislativo de cortes fiscais e aumento da despesa proposto por Trump. Inicialmente, o Presidente manteve-se em silêncio, mesmo enquanto Musk liderava uma campanha contra a medida, alegando que agravaria a dívida nacional, já nos 36,2 biliões de dólares.

Na quinta-feira, Trump quebrou o silêncio: “Estou muito desapontado com o Elon”, afirmou aos jornalistas no Gabinete Oval. “Tínhamos uma grande relação. Não sei se ainda temos.”

Enquanto Trump falava, Musk respondia em tempo real com publicações cada vez mais mordazes. “Sem mim, Trump teria perdido as eleições”, escreveu Musk, que investiu quase 300 milhões de dólares nas campanhas de Trump e de outros republicanos nas últimas eleições. “Tanta ingratidão.”

Numa outra publicação, Musk afirmou que as tarifas implementadas por Trump poderiam empurrar os EUA para uma recessão ainda este ano.

Além da Tesla, Musk lidera a SpaceX, uma empresa de foguetões e contratada do governo, e a sua unidade de satélites Starlink. Diante das ameaças de Trump, Musk anunciou que começaria a descontinuar as naves espaciais Dragon, da SpaceX – as únicas naves norte-americanas atualmente capazes de transportar astronautas para a Estação Espacial Internacional.

Dois pesos-pesados em confronto

O choque não foi totalmente inesperado. Trump e Musk são figuras combativas, com egos de grandes proporções e habituados a usar as redes sociais como campo de batalha contra os seus inimigos.

Mesmo antes da saída de Musk da administração, na semana passada, a sua influência já vinha a diminuir após vários confrontos com membros do governo sobre cortes nos respetivos departamentos.

Para Trump, esta é a primeira grande rutura com um conselheiro desde o início do seu segundo mandato. Durante o primeiro, entre 2017 e 2021, afastou-se de vários chefes de gabinete, conselheiros de segurança nacional e estrategas políticos. Alguns, como Steve Bannon, mantiveram-se próximos, mas outros, como o embaixador John Bolton, tornaram-se críticos ferozes.

Após se tornar o maior financiador republicano na campanha de 2024, Musk foi nomeado chefe do recém-criado Departamento de Eficiência Governamental, onde liderou um controverso esforço de redução da função pública e corte de despesas. Era presença assídua na Casa Branca e em audições no Capitólio, por vezes acompanhado do seu filho pequeno.

Apenas seis dias antes do confronto público, Trump e Musk apareceram juntos no Gabinete Oval, onde o Presidente elogiou o serviço público de Musk e ambos prometeram continuar a colaborar.

Um confronto prolongado entre ambos poderá dificultar os esforços republicanos para manter o controlo do Congresso nas eleições intercalares do próximo ano. Para além do seu peso financeiro, Musk tem uma presença massiva nas redes sociais e ajudou a reforçar os laços de Trump com o Vale do Silício e doadores abastados. Musk já tinha indicado que planeia reduzir os seus gastos políticos no futuro.

Logo após os comentários de Trump no Gabinete Oval, Musk lançou uma sondagem aos seus 220 milhões de seguidores no X: “Será altura de criar um novo partido político nos EUA que represente, de facto, os 80% da população que está no meio?”

“Matar o Projeto de Lei”

Esta semana, Musk apelidou o novo plano de Trump de “aberração nojenta” e acusou-o de aumentar perigosamente o défice. A sua oposição ao pacote legislativo veio aprofundar divisões dentro do próprio Partido Republicano, podendo comprometer a aprovação da proposta no Senado.

Especialistas independentes estimam que o plano poderá acrescentar entre 2,4 a 5 biliões de dólares à dívida nacional.

Trump, por sua vez, afirmou que a verdadeira razão da oposição de Musk era o fim dos incentivos fiscais para veículos elétricos. E sugeriu que Musk se sentia frustrado por ter saído do governo. “Não é o primeiro”, disse. “Alguns saem da minha administração, depois sentem saudades… Alguns voltam, outros tornam-se hostis.”

Musk respondeu no X com o apelo: “MATE o PROJETO DE LEI”, e afirmou que não se opunha aos cortes nos subsídios aos veículos elétricos, desde que o projeto eliminasse o “monte de despesas nojentas” associadas.

Num outro post, recordou antigas declarações de Trump contra o aumento da despesa pública e questionou: “Onde está esse homem hoje?”

Musk entrou no governo com planos ousados para cortar 2 biliões no orçamento federal. Saiu na semana passada, depois de reduzir apenas cerca de 0,5% da despesa total, mas gerando instabilidade em várias agências.

A crescente imersão de Musk na política provocou protestos em instalações da Tesla nos EUA e na Europa, prejudicando as vendas e aumentando os receios dos investidores quanto à dispersão da sua atenção.