O principal líder da oposição em Moçambique, Venâncio Mondlane, afirmou à BBC nesta terça-feira, 21 de janeiro, que está disposto a integrar o governo caso o Presidente Daniel Chapo atenda às suas exigências para pôr fim à crise política desencadeada após as disputadas eleições gerais.
De acordo com a mesma fonte, Chapo revelou ter criado uma equipa para “considerar” se Mondlane deve ser convidado a integrar um novo governo “inclusivo.” As declarações de ambos foram feitas em entrevistas separadas, indicando uma possível abertura ao diálogo após os tumultos pós-eleitorais, que resultaram na morte de cerca de 300 pessoas.
Mondlane recusou os resultados das eleições realizadas em outubro, alegando manipulação, uma acusação que Chapo nega. O Conselho Constitucional declarou Chapo vencedor com 65% dos votos, enquanto Mondlane obteve 24%.
Daniel Chapo, candidato do partido no poder (Frelimo), assumiu oficialmente a presidência no dia 15 de janeiro, sucedendo a Filipe Nyusi, que cumpriu dois mandatos. No entanto, Mondlane realizou uma tomada de posse simbólica, declarando-se o “Presidente do Povo.”
Numa entrevista, Mondlane classificou Chapo como um Presidente “imposto” e o “Presidente das Forças de Defesa e Segurança”. Apesar disso, anunciou a suspensão temporária dos protestos durante os primeiros 100 dias do mandato de Chapo, condicionando essa decisão ao cumprimento de três exigências principais: a libertação incondicional de cerca de cinco mil manifestantes presos; indemnização financeira às famílias das vítimas fatais dos protestos; e tratamento médico gratuito para cerca de 200 pessoas feridas durante os confrontos com a polícia.
Disposição para colaborar
Quando questionado sobre a possibilidade de trabalhar no governo de Chapo, Mondlane respondeu: “Sim, se ele tiver um interesse genuíno em trabalhar comigo. Tem a oportunidade de me convidar para a mesa do diálogo.”
Por sua vez, Chapo disse à BBC que pretende “governar de forma inclusiva” e introduzir reformas relacionadas com a lei eleitoral, direitos humanos e liberdade de expressão. Acrescentou ainda que as conversações já estão em curso com partidos da oposição representados na Assembleia da República, e que o diálogo será ampliado para incluir “todos os segmentos da sociedade.”
Quando questionado sobre a possível inclusão de Mondlane no governo, Chapo foi cauteloso: “Vai depender, porque há uma equipa que está a avaliar o perfil das pessoas, as suas competências, meritocracia e patriotismo. Se forem consideradas adequadas, farão parte do governo. Caso contrário, não.”
Aos 47 anos, Daniel Chapo foi escolhido pela Frelimo como candidato para atrair o apoio dos jovens, enfrentando desafios como o desemprego elevado e a insatisfação com décadas de governação do partido. Numa entrevista, Chapo destacou a importância de aumentar o investimento local e estrangeiro para dinamizar a economia, criando oportunidades para os jovens estabilizarem as suas vidas.
Por outro lado, Venâncio Mondlane, de 50 anos, mobilizou um apoio considerável entre os jovens durante a campanha com o slogan: “Salvem Moçambique – Este País É Nosso.”
Com um cenário político tenso e uma população ansiosa por mudanças, o diálogo entre os dois líderes poderá definir o futuro político e económico de Moçambique nos próximos anos.
Diário Económico
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