Braima Camará denuncia degradação da educação e exige eleições em discurso em Mansaine
Bafatá – 6 de fevereiro de 2025
Braima Camará, líder de uma das alas do MADEM-G15, proferiu um discurso contundente no dia 4 de fevereiro , em Mansaine, na região de Bafatá, denunciando o que qualificou como a “doença” que aflige a Guiné-Bissau. Durante o seu pronunciamento, o político reafirmou o seu compromisso com a paz e a unidade nacional, ao mesmo tempo que criticou as atuais condições de gestão do país e exigiu uma revisão urgente da condução do governo.
«A Guiné-Bissau está doente neste momento. Alguns estão a dizer que estamos a arrumar problemas, mas isso não corresponde à verdade. Se existem três políticos pacíficos na Guiné-Bissau, então eu sou o primeiro», declarou Camará, deixando claro que jamais pretende promover a violência ou a divisão entre os cidadãos.
O dirigente apresentou o projeto API – Cabaz Grande como a solução para os problemas que afligem o país, enfatizando que a iniciativa seria capaz de proporcionar melhorias concretas para a população. «Viemos aqui hoje para vos dizer que API – Cabaz Grande é a solução para este país», afirmou, num tom que misturava convicção e apelo à ação cívica.
Em referência à situação da educação, Camará recordou uma passagem particularmente comovente: «Passei em Missira e vi uma escola degradada, onde crianças estudam em condições inaceitáveis, mesmo em pleno século XXI – chorei de raiva». Segundo ele, num país onde a educação não é devidamente valorizada, os governantes demonstram falta de preparo para liderar. «Num país onde a educação não é prioridade, o desenvolvimento e a humanidade ficam comprometidos», enfatizou, reiterando que a educação deve estar no topo da agenda das prioridades nacionais, seguida pela saúde.
O político ainda criticou a ausência de infraestruturas essenciais em Mansaine, como escolas, centros de saúde, abastecimento de água e acesso à justiça, conclamando os habitantes da região a darem apoio à sua proposta. «Povo de Mansaine, dêm poder à API – os vossos problemas serão resolvidos», conclamou, numa clara chamada à mobilização e à participação ativa.
Reforçando o seu perfil de homem de ação e de cidadania, Camará afirmou que todas as suas intervenções em Mansaine decorreram do amor à pátria e não do interesse político. «Tudo o que fiz aqui em Mansaine não o fiz porque sou político, mas sim como cidadão que ama a sua pátria», disse, recordando ainda os seus 75 funcionários em Bissau, entre condutores e “seventes”, aos quais nunca se deveu salários em atraso.
O líder também aproveitou a ocasião para criticar a atuação dos demais deputados, insinuando que estes não estão a corresponder às expectativas dos eleitores. «Pensem nas pessoas que vocês escolhem. Eu não sou o único deputado que vocês elegeram. E onde estão os outros deputados? Nas próximas eleições quero cinco deputados aqui», afirmou, pedindo um reforço representativo na Assembleia Nacional.
Em duras críticas à atual gestão, Camará enviou uma mensagem direta ao Presidente da República, recordando que a presidência é uma função e que o titular deve ser o “pai da nação”. «Quando exerces a função de Presidente da República, tens de ser exemplar e obedecer à lei. Não é possível termos um governo em exercício há mais de um ano sem programa; um governo sem fiscalização é inadmissível», alertou. Segundo ele, a Guiné-Bissau não é propriedade do Presidente, mas sim do povo. «Guiné-Bissau não é propriedade do Presidente da República, ele é apenas o chefe de Estado. A nação é de todos», enfatizou.
Camará ainda defendeu que, em caso de dissolução do parlamento, novas eleições deveriam ser convocadas no prazo de 90 dias. Indicou que, sob condições normais, já no dia 27 de fevereiro o Presidente da República deveria estar presente – seja ele o atual ou outro eleito democraticamente – sublinhando que não se deve contar com “malandragem” da sua parte. «Eu quero cumprir com a Constituição», afirmou.
Em relação às obras realizadas pelo atual governo, o dirigente defendeu que, se o Presidente se sente confiante por ter realizado obras, então deve também marcar eleições, mantendo a sua postura de não apoio à violência. «Não estamos a favor de violência, somos de paz», disse, reiterando o seu compromisso com uma Guiné-Bissau democrática e constitucional.
No entanto, nem tudo foram elogios à sua coragem. Camará revelou ter sido alvo de ameaças, referindo que lhe foi pedido para não viajar e que um conselheiro do Presidente da República lhe disse que pretendiam envenená-lo. «Pessoas pelas quais lutei pelas suas causas querem hoje matar-me, mas só Deus consegue me matar», declarou, deixando claro que a sua fé e convicção não o abalarão.
«Nunca vou ter medo de dizer aquilo que penso, porque a democracia custou suor e vida aos combatentes da liberdade da pátria. Temos a responsabilidade de proteger a nossa Constituição», concluiu, encerrando um discurso marcado por críticas diretas à gestão atual e por um apelo apaixonado à recuperação dos valores fundamentais do país.
Rádio TV Bantaba
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