Por: Sanhá Ianga
Professor e Poeta
Na Guiné-Bissau, a juventude que se dedica à escrita enfrenta um desafio persistente e desmotivador: a quase inexistência de oportunidades para publicar as suas obras. Embora o país possua uma riqueza cultural indiscutível, essa riqueza não encontra respaldo quando se trata de transformar manuscritos juvenis em livros acessíveis ao público.
Atualmente, são poucas as editoras que operam no país, como a Ku Si Mon Editora e a Corubal Editora. Estas, apesar dos esforços, não conseguem responder à demanda crescente nem criar uma política editorial capaz de incluir novos autores. A maioria dos jovens escritores vê-se, assim, sem alternativas senão guardar os seus textos ou procurar editoras estrangeiras, uma solução fora do alcance da maioria, devido aos custos elevados.
A situação é agravada pela falta de apoio dos escritores mais experientes. Em vez de desempenharem um papel de mentores, muitos preferem manter-se distantes, deixando os jovens sem orientação e sem acesso às redes que poderiam facilitar a publicação e a promoção das suas obras. Esta falta de solidariedade literária contribui para um isolamento que mina o entusiasmo de quem inicia a caminhada.
Outro elemento ausente nesta equação é o setor empresarial. Em contextos onde a literatura prospera, é comum ver empresários patrocinando prêmios, publicações e eventos literários. No caso da Guiné-Bissau, o apoio privado à cultura, em especial à literatura, é praticamente inexistente. Essa ausência bloqueia a criação de um mercado interno que poderia beneficiar tanto escritores como leitores.
Não menos importante é a inexistência de um Prêmio Literário Nacional. Tal distinção, caso existisse, poderia estimular a produção literária, premiar a qualidade e incentivar a leitura entre os mais jovens. Seria uma ferramenta essencial para reconhecer o valor da escrita como um patrimônio nacional.
Contudo, há uma esperança: a Bienal da Arte e Cultura da Guiné-Bissau. Este evento, que já se afirma como um marco na agenda cultural do país, tem o potencial de se tornar uma verdadeira plataforma de lançamento para novos autores. A publicação de antologias com textos selecionados durante a Bienal pode oferecer aos jovens escritores a oportunidade que lhes tem sido negada: a de verem as suas palavras publicadas e lidas.
É urgente que o Estado, as editoras, os escritores veteranos e os empresários juntem esforços para mudar este quadro. A juventude guineense não precisa apenas de incentivo; precisa de condições reais para transformar o seu talento em obra publicada. O futuro da literatura nacional depende da capacidade de romper com este ciclo de exclusão e dar voz às novas gerações.
Por: Sanhá Ianga
Professor e Poeta
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